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João Silvério, Uma (outra) rota da seda, 2011
Uma (outra) rota da seda

No breve texto introdutório – enviado por e-mail com a imagem do convite – que escrevi para a apresentação pública do projecto de Ana Pérez-Quiroga, The world in its true colors / O mundo nas suas verdadeiras cores (2011), referi-me à condição dúplice do espectador como, simultaneamente, financiador e meio activo de realização deste projecto artístico. Recordo aqui o percurso artístico da artista, pautado por questões que questionaram a autoria, a relação entre o público e o contexto expositivo, e a interacção entre o lugar de produção da obra e a sua recontextualização pública como acto performativo. Assim, o espectador pode ser apenas um observador/fruidor e não integrar o plano de negócio que a artista propõe neste novo projecto como condição para a sua materialização como obra de arte.

Teremos então dois níveis de participação: o público em geral – o visitante – e aqueles que, fazendo parte desse público, decidem investir, participar, promover e partilhar com a artista esta obra. Este procedimento que encontramos no trabalho mais recente de Pérez-Quiroga revela uma particular atenção aos mecanismos económicos que estão na base da transacção de bens, nomeadamente a engenharia financeira necessária à construção de um projecto artístico nas diversas fases de produção e posterior aquisição.

Esta obra, The world in its true colors / O mundo nas suas verdadeiras cores, é composta por 225 tiras de seda originária da China (cada tira de seda mede 36 x 200 cm), em 75 cores diferentes que se repetem três vezes na grelha de montagem do espaço da galeria, e será finalizada com a edição de um livro. Um mapa/arquivo, que ficará como referência e memória daqueles que integraram voluntariamente o projecto, investindo meios financeiros e declarando por escrito, se assim o quiserem, a razão da escolha da cor da tira de seda. Cada uma das tiras de seda pode ser emoldurada ou usada como um adereço de vestuário, amplificando o espaço de fruição da obra de arte entre a intimidade e a sua expressão mundana (a revelação da identidade marcada pela escolha do vestuário, da cor, ou do material). Ana Pérez-Quiroga propõe-nos uma experiência que restabelece a ligação entre o objecto artístico e o objecto de uso quotidiano. Que religa a arte e a vida. Esta acção convoca a importância do mercado de arte, das condições de produção, de financiamento, de recepção e de aquisição da obra de arte, que se constituem como o eixo essencial da reflexão da artista. A obra ganha uma amplitude mais abrangente ao colocar-nos perante uma perspectiva que tem a globalização como a sua matriz ideológica, em termos económicos e culturais. Inicialmente planificado em Portugal, este projecto foi produzido na China, mais precisamente em Xangai, cidade onde a artista tem recorrentemente trabalhado em regime de residência voluntária e onde será produzido o livro/mapa. A descentralização e a diversidade são, assim, as coordenadas deste novo mapa, representado nas suas verdadeiras cores.


João Silvério
Outubro 2011
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